18 de maio de 2009

Cachorro Grande

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O primeiro a acordar foi Rodolfo Krieger. Talvez por ter sido o último a entrar na banda. Excelente guitarrista e agora baixista melhor ainda, acordou com a roupa que chegou em casa. Lembrou rindo da noite anterior, onde mentiu para alguém que não lembra, ao dizer que era o autor de Sinceramente. Poderia ter dito a verdade, ao se referir ao seu auto hino Deixa Fudê, e que a letra revelava que ele era um baita sortudo filho da puta. Mas ele não perde tanto tempo com conversas um tanto sérias. Preferiu pensar na próxima festa, o show de logo mais, em poucas horas. Colocou o Todos os Tempos na sala da casa que divide com Gross e pensou em outros lugares. Pensou no dia em que foi chamado pra tocar na banda mais rock do Brasil. E que com toda afinidade que tinha com os anfitriões da sua nova vida, sabia que deixar fuder era o jeito. Mesmo motivo que o fez decidir por uma cerveja após o lado A. O lado B já sabia de cor e ele decididamente terminaria o disco mentalmente, ao tomar os primeiros goles da segunda parte do dia. Acabou escutando o disco umas três vezes, sorriu como o detentor de maior felicidade da sua banda, e entrou na van com um copo plástico na mão, como se fosse viver para sempre.


Na última janela Marcelo Gross parecia não querer ser incomodado, porém, depois de alguns instantes abriu um sorriso e gritou de alegria. Conseguiu lembrar das três músicas que compusera na noite anterior, e o grito poderia significar qualquer coisa entre satisfação, alegria e loucura. Começou a falar dos novos discos e do novo violão. E do show. E de tudo que se passa na cabeça de um músico e compositor do seu naipe. A van se aproximava do local da apresentação e as visões da janela, antes invisíveis para o Gross que ativava o córtex em busca das novas músicas compostas, agora serviam com suas luzes para a inspiração de logo mais. Pensava também na mudança de van, de ônibus, de hotéis e paisagens. Sobre ir e vir. Foi o último a sair para o camarim.


Quem checou o freezer foi Gabriel Azambuja, o Boizinho. O mestre cuca de olhos azuis é mais primordial à banda provendo sons ao invés de comida, sem dúvidas. Eles sabem que o Boizinho deixa marcas gigantescas na composição das músicas, e além de tudo agora canta. Mas antes da voz chegar, a bateria já cantava, sozinha, suas melodias marcantes. Distribuiu latas já geladas para a sua trupe de tantas aventuras. Ficou meio ausente no camarim, com seu sorriso sempre presente, pensando no que é abstrato em seu mundo. Como por exemplo as vezes em que se arrepia tocando sua bateria com os seus. Como o seu coração dá uma acelerada toda vez que o produtor diz que tá na hora. E ouvir um público histérico também é importante. Algumas latas depois, escutou: -Tá na hora!


Pedro Pelotas é quem dá os primeiros acordes do show no seu orgão vintage e é também o primeiro a colaborar com a máquina do tempo que acabou de ligar. Os sons parecem saídos de 40 anos atrás, tocados como a 40 na frente. Tocando ele esquece tudo, inclusive do apartamento no Dakota que ele tanto merece, afinal é dos caras mais legais do mundo. Todas as suas fotos deveriam ser em Polaroid e também está na disputa de melhor coleção de vinil entre os parceiros de banda. Com a cabeça inclinada pro alto, cantando, às vezes no microfone, nem sabe mais se o show está no começo, meio e fim. Mas é o fim.


Beto Bruno está sentado no praticável da bateria e tem o olhar distante depois das quase duas horas de show de rock. Deve estar muito absorto enquanto descansa dos saltos flutuantes em bolhas para o público. De vez em quando levanta a cabeça e vê quatro amigos tão envoltos quanto ele, tocando suas partes da Cachorro Grande. A iluminação fica monocromática e a música termina. O clima esfuziante e esfumaçado está quente e gotas de suor caem quando Beto se dirige ao lugar mais conhecido da sua vida. Tão cinematográfico quanto suas músicas. Dândi do desleixo, sua garganta poderosa quer que tudo se foda mais uma vez. São ouvidos gritos da platéia. (Texto por Ricardo Spencer)


Integrantes:

Beto Bruno (vocais)

Marcelo Gross (guitarra e vocais)

Boizinho (bateria)

Pedro Pelotas (piano)

Rodolfo Krieger (baixo e vocais)


Discografia:

- Álbuns

Cachorro Grande (2001)

As Próximas Horas Serão Muito Boas (2004)

Pista Livre (2005)

Todos os Tempos (2007)


Cachorro Grande - Sinceramente


Site: cachorrogrande.com.br

2 Responses to “Cachorro Grande”

Virginia A. disse...

2009 - cinema.
Adoro esse blog. Muito bom mesmo.

IzaMendes disse...

Show no Rio dia 25/09 no circo voador...
Depois do FLASHROCK 2009 não perco mais nenhum.

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